Revista Osíris

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Saturday, December 31, 2005

Nº 1 - VOZ DE ADYAR
CRIATIVIDADE OU CONFORMIDADE
Radha BURNIER
in The Teosophist, Outubro 2003

Um passarinho sobre uma árvore pode instintivamente bater as asas antes de ser capaz de voar, mas o instinto não é a base de todas as suas acções. Podemos ver muitas vezes os pais junto da sua prole, ensinando-lhe a bater as asas, enquanto que o filho os imita e aprende. Aprender por imitação é necessário para a sobrevivência. Ocasionalmente, pode haver um jovem desobediente que recusa aprender. Por exemplo, quando um corçozinho experimenta afastar-se e a sua mãe lhe indica que há perigo, ela pode castigá-lo e ele aprende a fazer o que a mãe faz - sentar-se tranquilamente ou correr.

A imitação, fazendo parte do processo de sobrevivência, está enraizado no cérebro humano que evoluiu através de um longo período de tempo. Estamos todos profundamente condicionados a fazer como os outros. A linguagem também se aprende por imitação. Os bebés imitam os sons que os adultos fazem. Em casos raros, quando um bebé foi criado na selva por um animal, a criança não obtém a possibilidade de aprender a linguagem humana. Talvez ela aprenda a falar como os animais, seus pais adoptivos.

Assim, a conduta e o pensamento humano são geralmente mecânicos, não reflectidos, porque pode haver imitação sem que seja necessário examinar os pensamentos e as acções. É por esta razão que a sociedade humana não muda facilmente. Cada geração herda inconscientemente atitudes e reflexos das precedentes. Dado que a maioria das pessoas são conformistas, a criação de uma nova sociedade, com um melhor sentido dos valores, é muito difícil. Realizam-se grandes reformas no mundo somente quando os indivíduos com poder magnético sustentam um pensamento independente.
Muitas vezes é perigoso não se conformar com os modelos de pensamento e de acção religiosos, políticos e outros. Para Jesus era perigoso ser o que era. Assim, mesmo as pessoas que compreendem as desvantagens da conformidade, continuam a ficar na rotina, receando o desconforto e o perigo de serem “estranhos” na sociedade.

A imitação e a conformidade tomam formas variadas: imitar a conduta dos actores nos filmes, experimentar manter-se com os seus semelhantes, ou seguir estupidamente a moda, por mais desconfortável ou desadequada que ela possa ser. A atitude imitativa acontece muitas vezes no modo de fazer o que é saudável e razoável. No entanto, alguém pode conformar-se conscientemente no que diz respeito a matérias sem importância. Rebelar-se com bagatelas é uma perda de energia. Isso atrai a atenção para si mesmo sem necessidade e provoca o conflito. Por conseguinte, é de bom senso adaptar-se ao meio ambiente e às circunstâncias comuns até certo ponto, mas a completa adaptação não é desejável porque bloqueia o desenvolvimento dos indivíduos e a mudança para melhor na sociedade humana. O que se chama a tradição é muitas vezes a pressão que a sociedade exerce sobre o indivíduo para que se submeta a um modelo. É certo que há algumas tradições e princípios que são valiosos, mas também há superstições, crenças e costumes transmitidos através das gerações que não têm sentido e até prejudicam.
A ordem na sociedade é mantida, até certo ponto, impondo aquilo que uma longa prática deu a conhecer como sendo benéfica. Os pais têm razão em obrigar um filho a escovar os dentes ou a tomar um duche, mesmo quando ele não o quer fazer. Mas tais exigências não podem ir além disso. O cidadão deve obedecer à lei, mas deve ele conformar-se com as leis que são injustas? Também é importante desenvolver a reflexão e examinar e reexaminar seriamente todas as tradições e todas as convenções artificiais.

O Dr. R.A. Mashelkar, eminente cientista, escrevendo sobre as Primaveras da Criatividade Científica (the Teosophist - Março de 2002) diz isto:
As barreiras mentais entravam a criatividade. Reconhecê-las e ultrapassá-las é crucial para aumentar a criatividade científica...
Algo se fixa na paisagem mental. O que existe por detrás da barreira torna-se não só desconhecido como inimaginável. Grandes progressos na criatividade podem ser realizados desenvolvendo a coragem de reconhecer e ultrapassar as barreiras mentais... A habilidade para ver o que todos os outros vêem, mas que leve a pensar o que nenhum outro pensa, é a marca de um grande cientista.

Os cientistas são treinados para não tomar nada por adquirido mas sim para interrogar e examinar todas as coisas, cem vezes ou mais, se for necessário. Mesmo neste caso, os modelos mentais instalam-se e toda a gente questiona sobre as mesmas normas: em consequência, não se obtém nenhuma resposta nova para o problema. Algumas aberturas notáveis surgiram porque alguém colocou uma questão inesperada ou mesmo extravagante.
No campo espiritual, é ainda mais importante para o mental ficar completamente aberto e não estar fixo nos modelos conhecidos. No mundo, os problemas mais sérios nascem quando há uma falta de compreensão das relações entre mestre e discípulo, pais e filho, uma comunidade e uma outra, e se transmitem de geração em geração, sem que sejam questionadas. Isto é uma base de antagonismos e conflitos que se tornam endémicos na sociedade humana. Cada membro da ST subscreve os seus objectivos, indicando assim o seu reconhecimento da necessidade de fazer nascer uma nova sociedade humana, onde prevaleçam a cooperação e a fraternidade. Mas se o seu mental continua a estar condicionado pela tradição e por ideias convencionais vindas do meio ambiente, poderá manter as diferenças em vez de promover a fraternidade. Consequentemente, temos a obrigação de examinar como pensamos. Será que imitamos o mundo em geral e separamos os interesses da nossa família dos das outras famílias, os da nossa nação dos das outras nações, e assim por diante? Para nos libertarmos dos actos impressos no nosso cérebro, devemos aprender a ser cada vez mais conscientes de que a conformidade e o pensamento imitativo são a causa da estagnação na sociedade e da ausência de criatividade no indivíduo.

Radha BURNIER
Presidente Internacional da S. T.




Para sermos verdadeiros teósofos, devemos viver inteligentemente, olharmo-nos objectivamente, ver como funcionam os nossos pensamentos e de que maneira eles contradizem o princípio fundamental da Teosofia. Este princípio é o da Fraternidade e implica aprender a reconhecer a Natureza imortal em todas as pessoas e dar-se conta de que isso é muito mais importante do que a aparência exterior
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Radha BURNIER
Não há outro caminho

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