Revista Osíris

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Saturday, December 31, 2005

Nº1 - HARRY POTTER E A ANTIGA SABEDORIA
John ALGEO

Os livros de Harry Potter, da autoria de J. K. Rowling, constituem um fenómeno a um tempo fantástico e mágico. É uma obra vinda não se sabe donde, no âmbito do mundo editorial, mas que se tornou rapidamente o maior sucesso de vendas do nosso tempo no campo da literatura juvenil, sendo os filmes baseados nela igualmente populares.
Os livros de Harry Potter são um exemplo vivo de três géneros literários. Um é o romance de formação (bildungsroman), ou a história da educação moral e psicológica do protagonista; Harry Potter é o aluno num colégio interno, mas também apresenta essa condição na escola da Vida. Outro género é o romance da demanda, no qual o protagonista enfrenta uma série de provas, que uma vez vencidas, conduzirão à descoberta de um grande tesouro – que no caso de Harry é o conhecimento de si próprio. O terceiro é o conto de fadas, cuja personagem central é frequentemente um órfão; Harry é órfão, e, por conseguinte, um representante adequado de todo o ser humano, pois todos nós somos, segundo as palavras dos grandes Mestres da Teosofia, membros da “pobre humanidade órfã”.
Harry faz parte de uma família de Feiticeiros, mas foi criado por Muggles, ou seja, Não-Feiticeiros, portanto ignora o seu passado e os seus poderes latentes. Não obstante, é chamado à escola de Feitiçaria e Magia de Hogwarts onde vai passar sete anos a receber educação em magia, e também adquirir maturidade moral e psicológica. Em Hogwarts, ou a partir desse local, Harry vai envolver-se numa série de demandas que fazem parte, na sua totalidade, de uma demanda ainda mais abrangente e superior que é a de descobrir quem é e o que é.
Quatro livros editados, e mais três em projecto, são apelativos tanto para os jovens em idade como para os que se sentem como tal, sob o ponto de vista afectivo. Esse apelo baseia-se na perícia e capacidade da autora como contadora de histórias, mas também na visão do mundo das próprias histórias que – fica aqui a sugestão – é compatível com a Antiga Sabedoria.
A extensa e profunda familiaridade de Rowling com o mito, a lenda, a magia e os estranhos e surpreendentes laivos de recôndita informação esotérica são o material base com o qual ela tece a sua teia do relato mágico. Os livros criam o seu próprio mundo, cuja integridade e coerência é essencial para a fantasia de qualidade. No entanto, são também passíveis de ser interpretados, ou, para usar o termo de J. R. R. Tolkien, “aplicados” a outros contextos, tal como a Teosofia com a qual Rowling está familiarizada, como é evidente através da clara referencia em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban à autora fictícia “Cassandra Vablatsky” e a sua igualmente fictícia obra O Futuro sem Véu. “Vablatsky” é uma metátese de “Blavatsky” e Cassandra uma substituição adequada de “Helena”, porque Cassandra era filha de Príano, rei de Tróia, uma profetisa que dizia sempre a verdade mas na qual ninguém acreditava, e porque a história de Cassandra é uma parte da grande guerra da Ilíada, causada pela posse de Helena. Mais ainda: a obra fictícia O Futuro sem Véu sugere Isis sem Véu, o trabalho mais magistral de Helena Blavatsky.
Embora “Cassandra Vablatsky” demonstre que Rowling tem algum conhecimento da Tradição Teosófica, não pode, de forma alguma, assumir-se que esse conhecimento seja profundo ou extensivo. É, no entanto, interessante que muitos conteúdos dos livros de Harry Potter alinhem de forma paralela com o pensamento teosófico. Em tal paralelismo não está necessariamente implícito um conhecimento detalhado de tais ideias por parte da autora, pois pode surgir de forma independente a partir da familiaridade desta com os mitos, lendas e símbolos que constituem a Sabedoria Antiga, ou até níveis profundos e inconscientes da psique, onde a Sabedoria se encontra alojada na mente-coração de cada ser humano.

POLARIDADES

Um dos temas teosóficos de Harry Potter é o da Polaridade: espírito / matéria; vida / forma; energia / massa; Ying / Yang; esotérico / exotérico; etc. Algumas destas polaridades são notoriamente visíveis nos livros. Uma delas é a dos Feiticeiros contra os Muggles, duas espécies de pessoas que habitam o mundo de Harry Potter. Os Feiticeiros são sábios no âmbito da magia; os Muggles são cabeça-dura e estão fora do mundo da magia, embora estejam hábeis sob o ponto de vista tecnológico para compensar a sua falta de poderes; enfermam de falta de imaginação e têm espírito de filisteu. Feiticeiros e Muggles são, na prática, espécies diferentes que raramente se misturam e que às vezes se compreendem mal mutuamente.

“Todas as pessoas da tua família são feiticeiras?” perguntou Harry…
“Oh – sim, penso que sim”, disse Ron. “Acho que a minha mãe tem um primo em segundo grau que é contabilista, mas nunca falamos sobre “ele”” (Harry Potter e a Pedra Filosofal).

Estas espécies contrastantes de sábios e cabeças-duras são paralelas aos dois tipos de pessoas identificadas em “Aos Pés do Mestre” (um dos clássicos espirituais da Teosofia):
Há duas espécies de pessoas no mundo – os que sabem, e os que não sabem; e esta sabedoria é o que interessa.
A sabedoria em questão é a da realidade de um plano organizado do universo e do lugar dos seres humanos nesse plano. Os Feiticeiros são etimológicamente aqueles que sabem. Os Muggles são a outra espécie.
Outra categoria de polaridade é a do Bem contra o Mal. Esta polaridade é bastante diferente entre os Feiticeiros e os Muggles. Há bons Muggles e maus Muggles, bem como bons Feiticeiros e maus Feiticeiros. Claro que as duas figuras arquetípicas do Bem e do Mal, nos livros de Harry Potter, pertencem ambas à espécie dos Feiticeiros. Albus Dumbledore é reitor em Hogwarts e o maior feiticeiro vivo. O seu primeiro nome, Albus, é a palavra latina para “branco”, sendo ele portanto em mago “branco” ou um mago bom. A primeira parte do apelido Dumb, é a palavra inglesa para “silencioso, mudo”; a lembrar-nos que a verdadeira Sabedoria é frequentemente tomada por estupidez por aqueles que não sabem. (Exemplo: a figura literária do louco-sábio). Mais ainda: Dumble rima com humble (humilde); os verdadeiros sábios são humildes, pois sabem o quanto está ainda por saber. A última parte do nome do reitor, dore é uma homófona de door (porta); este sábio reitor é a porta através da qual Harry vai entrar na vida da Aprendizagem e do Serviço.
Por outro lado, o arquétipo do Mal é Voldemort, a sombra e a némesis de Harry. Outrora aluno de Hogwarts, tal como Harry neste momento, Voldemort adoptou esse nom de mal quando ingressou na senda da iniquidade. Vol sugere a palavra germânica wollen, “querer, desejar”, e Mort é a raiz latina de “morte”. Portanto Voldemort é aquele que está ligado a desejos de morte (mort), o oposto da Sabedoria.
Em Hogwarts, os dois melhores amigos de Harry, Ron Weasley e Hermione Granger, constituem outra polaridade. Ron pertence a uma velha família de Feiticeiros; Hermione a uma família Muggle. E eles equilibram-se entre si através de muitas características: Ron é calmo e introvertido; Hermione é faladora e extrovertida. Ron é tímido, com sentimentos de inferioridade, porque é o mais novo dos seus talentosos irmãos; Hermione é confiante e assertiva, uma distinta vencedora. Ron corre riscos; Hermione respeita a lei; Ron está cheio de energia masculina; Hermione de energia feminina. Com Harry, formam um triângulo de energias e de tipos de personalidades.

A DEMANDA

A questão última nos livros de Harry Potter é a descoberta de si próprio. Neste tempo, esta obra partilha um tema comum com as grandes obras de orientação espiritual da humanidade. A iluminação é a capacidade de responder correctamente à pergunta “Quem sou eu?”. Uma vez um estudante Zen foi procurar um Mestre Zen e perguntou-lhe o que fazer para atingir a Iluminação. O Mestre Zen retorquiu: “Quem faz a pergunta?”. O estudante que for capaz de responder a essa questão atingiu a Iluminação. Esta mesma pergunta é o tema principal dos Upanishades, e mesmo de todos os tratados espirituais de todas as grandes Tradições.
Harry empreende a grande demanda de descobrir quem realmente é, no sentido mais simples, mais literal do termo que é tentar saber tudo acerca dos pais – mas também num sentido mais profundo: descobrir a sua própria natureza e a sua missão na vida.
Essa grande demanda é retratada nos diferentes temas de cada livro da série: no primeiro livro é encontrar a Pedra Filosofal. “Filosofo” é o termo tradicional para alquimista, e a Pedra Filosofal é o produto mágico da arte do alquimista que transmuta metais básicos em ouro, e fabrica uma bebida, o Elixir da Vida, que confere a Imortalidade. (Parece que os editores americanos acharam a palavra “filosofo” demasiado árida e poeirenta, e portanto optaram por usar de preferência a expressão “Pedra do Feiticeiro”).



A sua demanda da Pedra Filosofal leva Harry às caves e subterrâneos da escola de Hogwarts, onde a pedra foi escondida. Essa grande janela nas profundidades reflecte o antigo tema da descida ao mundo subterrâneo, que é a parte mais inconsciente da nossa psique, onde descobrimos verdades ocultas sobre nós próprios. A exploração que Harry faz do subsolo apresenta-se em sete níveis (reduzidos para cinco no filme):

1 – Harry e os seus amigos têm de passar um cão de três cabeças que guarda a entrada para os subterrâneos. O cão, embora se chame “Fofinho” na história, é Cerbero, o vigilante do mundo subterrâneo, ou Hades na mitologia grega. O cão é adormecido com a música de uma flauta, outrora oferecida a Harry, e que ele gosta de tocar com Hermione. Foi assim que Orfeu consegui entrar no Hades para resgatar a defunta esposa – tocando lira.
A flauta tocada por Harry e Hermione é análoga ao instrumento da ópera de Mozart “A Flauta Mágica” em que Pamino e Pamina tocam durante a sua co-iniciação no fim da ópera.
2 – Quando os companheiros se precipitam pela entrada (tal como Alice pela toca de coelho abaixo) a sua queda é aparada com uma aterragem em cima de uma luxuriante planta chamada “Armadilha do Diabo”. Os tentáculos desta planta agarram tudo o que dela se aproximar, e vão ficando cada vez mais cerrados e apertados à medida que a vitima luta para escapar. Hermione todavia, recorda-se do que aprendeu no seu incessante estudo: esta planta foge da luz, portanto usa um feitiço para obter uma feérica iluminação no seu bastão. A Armadilha do Diabo sugere que aquilo que é doce e fácil é por vezes uma armadilha e que o mal e a opressão podem ser vencidos pela luz do conhecimento.
3 – Em seguida os companheiros chegam a uma câmara em cuja longínqua extremidade se encontra uma porta que só pode ser aberta com uma chave especial a escolher num molho de chaves aladas que circulam a toda a velocidade por todo o compartimento. Harry, que é um especialista, no que respeita a apanhar coisas enquanto voa na vassoura, consegue fazê-lo. O simbolismo é óbvio: precisamos da chave do conhecimento para abrir a porta dos planos internos, mas essa chave é fugidia, difícil de apanhar, e só pode ser obtida por aquele que está treinado para cumprir essa tarefa.
4 – Na câmara que se encontra atrás da porta, os companheiros deparam com um tabuleiro de xadrez para Feiticeiros, durante o qual as peças “comidas” são feitas em pedaços pelos vencedores. Ron, que é o mestre de xadrez do grupo, dirige os movimentos e finalmente sacrifica-se para que Harry possa obter o cheque-mate face ao rei em oposição. O jogo de xadrez é um eco de Alice Atrás do Espelho e é uma metáfora comum no que respeita ao jogo da vida. O auto – sacrifício heróico de Ron pelo bem dos outros coloca-o na categoria dos futuros bodhisattvas, que sacrificam o seu próprio bem-estar em benefício de todos.
5 – Deixando para trás Ron inconsciente, na câmara seguinte Harry e Hermione encontram um enorme e horrendo troll que é necessário vencer. Contudo, esse troll já tinha sido batido, de facto, pelos três companheiros que o tinham deixado inconsciente, estatelado no chão, quando aquele invadira as salas da escola. Vencer o monstro é controlar a própria sombra, ou Morador do Umbral, a materialização dos nossos erros e natureza bestial. Uma vez obtido esse controlo, o troll sombrio deixa de ser uma ameaça e pode ser manobrado à medida que for sendo necessário.
6 – Na penúltima câmara, Harry e Hermione estão encurralados entre paredes de fogo que só podem ser transpostas através da resolução de um enigma ou adivinha. Hermione, a cerebral deste conjunto de três, encontra a solução e Harry manda-a para trás para assistir Ron e ele segue em frente sozinho. Os fogos da paixão só podem ser dominados se soubermos qual é a resposta aos enigmas da vida. Esse conhecimento é ganho pelos verdadeiramente inteligentes e é isso que, de facto, significa a inteligência. Temos de saber usá-la para passar à câmara mais secreta da nossa demanda, e essa passagem final será feita apenas por cada um de nós, e por ninguém mais, pois a iniciação final da demanda é de carácter solitário, vivida sem qualquer ajuda, excepto aquela que possuímos dentro de nós próprios.
7 – Na última câmara, Harry depara não só com Voldmort, que corrompeu um dos professores de Hogwarts e ocupou o seu corpo, mas também com o Espelho de Erised, que tem de ser usado para encontrar a Pedra. O Espelho de Erised apresenta àqueles que nele se miram não o reflexo da realidade mas antes aquilo que mais desejam. É a Grande Ilusão, e temos de conhecer o seu segredo para não sermos enganados. Para descobrir a Pedra Filosofal no Espelho é condição querer, de facto, encontrá-la, mas não para a usar em seu benefício, mas para a salvar de um mau uso por parte de Voldemort. Através de um acto de coragem desinteressada de Harry, a Pedra Filosofal, tal como o Anel de Tolkien, é destruída para não cair nas mãos de Voldemort. A verdadeira riqueza e a verdadeira imortalidade são conseguidas apenas por aqueles cuja motivação é o desejo inteiramente desinteressado. É esse o grande segredo da demanda.



LIÇÕES DE VIDA DE HOGWARTS

Durante todo o processo de descoberta do grande segredo, Harry aprende boas e úteis lições, e o mesmo acontece com os leitores. Embora se trate de ficção fantástica, as suas mensagens são um facto real. Conseguimos identificar sete lições, três das quais são introdutórias.

1 – Há outro nível de verdade para além da realidade Muggle do dia a dia. Todos somos órfãos neste mundo, tal como Harry Potter na Escola da Sabedoria, e estamos a aprender as verdades desse nível.
2 – Professores – Mestres, como Dumbledore, estão à disposição na escola da vida para nos guiar na nossa aprendizagem.
3 – Com estes Professores aprendemos a conhecer e enfrentar a Verdade, mas não de um modo inconsiderado:

[Harry:] “Senhor, há outras coisas que eu gostava de saber, se puder dizer-mas… coisas que quero saber, acerca das quais quero conhecer a verdade…
“A verdade.” Dumbledore suspirou. “É uma coisa bela e terrível, e por isso deve ser tratada com grande cuidado.”
Quando começa a perguntar sobre Voldemort, Harry refere-se a ele usando um eufemismo “Aquele – que – nós – sabemos”, que a maior parte das pessoas emprega quando se refere a essa personagem, porque temem pronunciar o nome do grande mago negro, mas Dumbledore corrige-o:
“Chama-lhe Voldemort, Harry. Usa-se sempre o nome certo para as coisas. Temer o nome, aumenta o temor da própria coisa.”



No seguimento destas três lições preliminares encontram-se quatro lições principais:

1 – Discriminação. Temos que escolher o nosso próprio caminho na Senda da Vida: Dumbledore diz a Harry: “são as nossas opções, Harry, que mostram o que verdadeiramente somos, muito mais do que as nossas capacidades. (Harry Potter e a Câmara dos Segredos). As Cartas dos Mahatmas dizem-nos: “temos uma só palavra para todos os aspirantes: EXPERIMENTAR”. E no livro guia espiritual “Aos Pés do Mestre” a primeira das quatro qualidades para seguir o caminho é a “Discriminação”. Mais ainda: a Terceira Verdade do Lótus Branco (extraída do livro-guia Luz no Caminho) diz-nos: “cada um de nós é o nosso próprio legislador absoluto, o dispensador da glória ou do pesar para nós próprios; o que decreta a nossa vida e as respectivas recompensas e punições. “Esta lição é, portanto, aquela em que nos é dito que deve ser feito esforço, tentar, experimentar, para distinguir o real do não real, entre o menos bom e o melhor, entre o transitório e o eterno.

2 – Ausência de desejo. A segunda lição principal diz que o mundo é Maya, Ilusão, e, por conseguinte, devemos passar por ele completamente libertos de desejo egoísta. O Espelho de Erised é um símbolo do Desejo de Maya. A palavra “Erised” é “Desire” lida ao contrário, (“Desire” é a palavra inglesa para “Desejo”), portanto, é um desejo errado. O espelho tem uma inscrição gravada à volta da parte superior: “Erised stra ehru oyt ube cafru oyt on wohsi” que lido ao contrário é “I show not your face but your heart’s desire”. (em português: “não mostro o teu rosto mas o desejo do teu coração”). Os que se olham a este espelho não vêem reflectida a sua imagem, tal como ela é, mas apenas a ilusão daquilo que pretendem ser ou ter. Dumbledore explica deste modo o espelho: “o homem mais feliz do mundo usaria o Espelho de Erised como um espelho normal, ou seja, para ver reflectido nele a sua imagem, como ela é exactamente… mas o Espelho não é mais nem menos do que o mais profundo e desesperado desejo dos nossos corações… este Espelho não nos proporciona nem Sabedoria nem Conhecimento da Verdade. Muitos se perderam por causa dele, fascinados pelo que tinham visto, e enlouqueceram sem saber se aquilo que ele mostra é real ou mesmo possível”.
O Espelho é um símbolo de Maya, a Grande Ilusão, esse mundo governado e motivado pelo desejo. Em “Aos Pés do Mestre” a segunda qualidade necessária para entrar no Caminho é “Ausência de Desejo”, que é afinal, a libertação do desejo pessoal, ou, tal como Bhagavad Gita considera, o actuar tendo ausência de desejo no que respeita aos frutos da acção.

3 – Linhas de conduta. A terceira lição é que devemos viver as nossas vidas de preferência de acordo com os Princípios Correctos, e não de acordo com regras arbitrárias. A terceira qualidade constante em “Aos Pés do Mestre” é referente às “Seis Linhas de Conduta”: auto-controlo no que respeita à mente, auto-controlo da acção, Tolerância, Alegria, Coerência e Confiança – ter confiança especialmente no Plano, que é aquele que aqueles que sabem divulgam. Aqueles que sabem, sabem que a Morte faz parte do Plano. Quando Harry se preocupa com as consequências do desaparecimento da Pedra Filosofal no bom de filosofo alquimista que conseguiu obtê-la, e que terá de morrer sem ela, Dumbledore explica:
“Afinal de contas, a Morte é apenas a próxima grande aventura para a mente bem organizada. Sabes que a Pedra não era afinal uma coisa assim tão esplêndida. Todo
o dinheiro e a vida que desejares! As duas coisas que a maior parte dos seres humanos escolheriam acima de todas as outras – o problema é que os humanos têm tendência para escolher precisamente aquilo que só lhes faz mal.”

4 – Amor. Harry é salvo dos ataques do Mal, tanto na infância como durante a sua demanda, pelo grande amor que sua mãe lhe tinha. Dumbledore conta a Harry: “a tua mãe morreu para te salvar. Se há alguma coisa que Voldemort não consegue entender é o amor. Ele não compreendeu que esse amor tão poderoso como o de tua mãe por ti deixa a sua própria marca. Não é uma cicatriz, nem um sinal visível… ter sido amado de um modo tão profundo, mesmo que a pessoa amada já tenha partido, irá dar-nos alguma protecção para todo o sempre… Voldemort não pode tocar-te por esta razão. Seria doloroso tocar uma pessoa marcada por uma coisa tão boa”.
A quarta qualidade para seguir o Caminho referida em “Aos Pés do Mestre” é o Amor.

São estas as lições que Harry Potter aprende no seu primeiro ano em Hogwarts e na primeira fase da sua educação na vida: discriminação ao fazer as suas opções; fazer o que é correcto sem desejo pessoal; deixar-se guiar na sua vida por princípios inteligentes e não por regras arbitrárias; ter confiança no que Dante chamou “o Amor que faz mover o sol e as outras estrelas” na Divina Comédia. Correspondem à Discriminação, Ausência de Desejo, Boa Conduta e Amor.

São lições proveitosas para aprendermos no início, ou em qualquer altura da vida.

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